sexta-feira, junho 29, 2007

Um pouco de História da Maçonaria no Brasil (*)

No ano de 1815 estudantes brasileiros retornados da Universidade de Coimbra (Portugal), onde haviam sido iniciados maçons, engajavam-se decididamente na luta política pela independência das províncias ultramarinas de Portugal na América do Sul, que constituíam àquela altura o Reino do Brasil, com Capital na cidade do Rio de Janeiro. Desde 1808 achava-se abrigada nessa cidade a família real de Portugal, fugida da Europa face à invasão de Napoleão Bonaparte.
Algumas Lojas Maçônicas haviam sido criadas em território brasileiro pelo menos desde 1797, mas para nós interessa o registro da fundação, em novembro de 1815, da Loja “Comércio e Artes”, fundada por maçons decididamente engajados no propósito de promover a independência política das províncias brasileiras. Tendo em vista o Alvará Régio de 30 de março de 1818, que proibia o funcionamento no Brasil de sociedades secretas, esta Loja foi fechada e todos os seus livros queimados, conforme ficou registrado na “ata da sessão de reinstalação”. Esta reinstalação ou reerguimento de colunas foi realizada em 24 de junho de 1821, constando da ata que a Loja passaria a adotar o título distintivo de “Comércio e Artes na Idade do Ouro”.
Esta Loja “Comércio e Artes na Idade do Ouro” é a origem do Grande Oriente do Brasil, pois em sessão de 17 de junho de 1822 resolveu criar mais duas Lojas — a “Esperança de Niterói” e a “União e Tranqüilidade”—, pelo desdobramento de seu quadro (por sorteio), e a partir dessas três Lojas Metropolitanas formar o Grande Oriente. Dentre os componentes da Loja destacam-se as figuras de Joaquim Gonçalves Ledo e o padre-mestre Januário da Cunha Barbosa, dois ativistas do processo de independência política do Brasil.
José Bonifácio de Andrada e Silva, “O Patriarca da Independência”, foi aclamado primeiro Grão-Mestre do Grande Oriente, tendo Joaquim Gonçalves Ledo como 1º Grande Vigilante e Januário da Cunha Barbosa como Grande Orador.
O objetivo primordial da criação do Grande Oriente foi engajar a Maçonaria, como Instituição, na luta pela independência política do Brasil e tal determinação consta de forma explícita nas atas das primeiras reuniões da Obediência então criada, que só admitia a iniciação ou filiação em suas Lojas de pessoas que se comprometessem com o ideal de independência do Brasil.
Em junho de 1822 a família real portuguesa já havia voltado a Lisboa (Portugal), por exigência das Cortes (Parlamento português), deixando aqui como Príncipe Regente Dom Pedro de Alcântara, filho de Dom João VI, rei de Portugal.
O príncipe Dom Pedro, jovem e voluntarioso, viu-se envolvido de todos os lados por maçons, que constituíam a elite pensante e econômica da época. Por proposta do Grão-Mestre José Bonifácio foi o príncipe iniciado em assembléia geral do Grande Oriente no dia 2 de agosto de 1822, adotando o “nome heróico” de “Guatimozim” (nome do último imperador azteca morto por Cortez, no México, em 1522). Dom Pedro ficou fazendo parte do quadro da Loja “Comércio e Artes” e na sessão seguinte do Grande Oriente, realizada em 5 de agosto, por proposta de Joaquim Gonçalves Ledo que ocupava a presidência, foi o príncipe proposto e aprovado para o grau de Mestre Maçom.
Numa jogada política, Gonçalves Ledo fez com que Dom Pedro fosse “eleito” Grão-Mestre do Grande Oriente o lugar de José Bonifácio, sendo empossado em 4 de outubro de 1822.
Embora quase todas as pessoas influentes junto a Dom Pedro fossem maçons e membros do Grande Oriente, única Obediência Maçônica então existente, a rivalidade política entre eles era bastante grande e a disputa pelo poder provocou sérias lutas. A independência do Brasil foi proclamada por Dom Pedro a 7 de setembro de 1822, assumido ele a condição de imperador, com o título de Dom Pedro I. Um mês e meio depois, exatamente no dia 21 de outubro, determinava ele - “primo como Imperador, secundo como G. M.” — o fechamento “temporário” do Grande Oriente, que acabou se mantendo em vigor durante todo seu reinado (que terminou com a abdicação ao trono em 7 de abril de 1831 e sua ida a Portugal para retomar o trono português em poder de seu irmão dom Miguel, o que ele conseguiu, sendo coroado Dom Pedro IV de Portugal).
Já em 1830 os maçons do Rio de Janeiro procuravam reencetar os trabalhos que estavam praticamente parados, tendo fundado um novo Grande Oriente, que viria a ser instalado em 24 de junho de 1831, com o nome de Grande Oriente Brasileiro, e que viria a ficar conhecido sob o nome de Grande Oriente do Passeio (nome da rua onde tinha sede). Em outubro de 1831 um grupo de maçons remanescentes do primitivo Grande Oriente reinstalou os quadros das três Lojas Metropolitanas primitivas e escolheu o primeiro Grão-Mestre, José Bonifácio, para assumir o comando, sendo o Grande Oriente reinstalado em 23 de novembro de 1831. Em conseqüência, durante 30 anos funcionaram no Rio de Janeiro dois Grandes Orientes, até que em 1861 o Grande Oriente do Passeio deixou de existir, sendo suas Lojas absorvidas pelo Grande Oriente do Brasil.
O Grande Oriente do Brasil sofreu diversas cisões durante sua vida, a maioria delas conseqüência de disputas nas eleições para o Grão-Mestrado Geral. Todas as dissidências havidas até 1927 acabaram sendo reabsorvidas ao longo do tempo, com a reincorporação das Lojas e Obreiros à Obediência do Grande Oriente do Brasil.

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