segunda-feira, janeiro 25, 2010

A Maçonaria, tal como hoje a conhecemos e com as poucas alterações que foi sofrendo ao longo do tempo, é a mesma que nasceu da constituição da Grande Loja de Londres, em 1717, pela reunião das quatro lojas que a fundaram. Desse acto fundador da Maçonaria Moderna, também designada de especulativa, relevam três características fundamentais que a definem:a variedade de profissões a que pertencem os seus membros,a tolerância religiosa e política entre si e em relação aos outros e, finalmente, a adopção de um ritual e de um conjunto de normas estatutárias, derivadas das antigas corporações de ofícios da Idade Média.

Estas três características, se por um lado, legitimam a nova maçonaria como a continuadora daquelas instituições medievais, porque encontramos nelas, formas, expressões e comportamentos que se revêm nas lojas maçónicas, por outro lado, elas não podem ser entendidas como uma mera evolução da primeira.

Primeiro, porque as lojas fundadoras da Grande Loja de Londres não eram antes operativas, ou qualquer outro tipo de confrarias ou corporações e os seus membros e os seus membros não tinham essa proveniência;segundo, porque essas corporações tinham a singularidade de congregar indivíduos da mesma profissão ou de profissões afins, enquanto as lojas maçónicas se caracterizam, precisamente, pela sua interprofissionalidade;terceiro, porque as primitivas associações medievais adoptavam um santo protector, ou orago, à volta do qual se desenvolvia uma liturgia própria, ao contrário das lojas maçónicas, onde essa questão é ultrapassada pela designação de Grande Arquitecto do Universo, sem definição objectiva, para que cada um reveja nele, ou a partir dele, o fundamento das suas convicções religiosas e o possa aceitar como seu.

É claro que estas preocupações se explicam melhor, se enquadrarmos a fundação da Grande Loja de Londres, na Inglaterra de princípios do século XVIII.Alguém lhe chamou oséculo da tolerânciaporque sucedeu a um outro que foi o seu contrário-um longo período, longamente castigado pelos conflitos religiosos, com vítimas que se contavam às centenas de milhar e com os consequentes reflexos no tecido social e na estrutura do poder político, instabilizado no interior e,por isso,fragilizado para enfrentar os concorrentes europeus, também eles a passar por dificuldades semelhantes.

Para uma Inglaterra que havia assumido uma rebelião radical contra Roma e contra a autoridade papal, era compreensível o aparecimento de certos focos do grande conflito religioso que continuava em toda a Europa, enquanto se não definisse a estrutura de uma nova religião, que fosse suficientemente autónoma e distante das questões pelas quais se rebelara.Mas a Igreja católica tinha enveredado pela via mais radical e definia as novas regras nas conclusões do Concílio de Trento.Era aseparação das águasque o protestantismo agradecia como legitimação da sua dissidência.A via protestante do cristianismo europeu tinha agora um caminho mais fácil a percorrer.

Ao longo do século XVII e com o fim do consulado de Cromwell, a Inglaterra possuía uma igreja própria, a anglicana, autónoma em relação a Roma, mas faltava-lhe uma organização de elite que tivesse uma função reguladora da sociedade, da moral e dos costumes, mas que não deixasse de promover um certo dinamismo social e económico, de que o país tanto precisava;que fosse uma espécie de superestrutura que, tanto protegesse as instituições nacionais como também lhes conferisse uma acentuada competitividade, numa Europa onde o Antigo Regime já ia dando muitos sinais de cansaço, sem deixar vislumbrar os contornos da nova ordem.Estabilizadas as instituições inglesas, havia agora que propiciar-lhes um terreno fértil para se desenvolverem, promover as melhores condições para a congregação de uma massa crítica, intelectual, científica, religiosa e política, que atravessasse horizontalmente as classes e permitisse um debate de ideias, livre e alargado.

É este o contexto em que aparece a Maçonaria Moderna, vinda do interior de um sistema político e religioso que defenderá sempre, enquanto cria as mais diversas dinâmicas de crescimento, na sociedade, na economia e nas organizações. A Inglaterra, como toda a Europa, tinha uma longa experiência de instituições corporativas que congregavam a maioria das actividades artísticas e comerciais, tinham rituais próprios e selectivos de entrada de novos membros e uma prática operativa só conhecida dos seus iniciados.É essa prática secreta que a Maçonaria Moderna importa e a coloca ao serviço e ao alcance de indivíduos pertencentes a várias classes, fazendo dessa nova organização uma Ordem de consciência e de valores.

Se a Maçonaria Moderna tivesse saído do interior dessas organizações, podíamos conhecer as fases e as formas dessa evolução, as contestações internas e as dificuldades próprias de cada processo evolutivo.Mas não, as confrarias, as irmandades, as corporações de artes e ofícios, não se deram conta do nascimento da Grande Loja de Londres e o percurso de ambas decorreu afastado e sem pontos de cruzamento. Não foram, portanto, essas instituições da antiga maçonaria operativa que se desenvolveram no sentido da maçonaria especulativa.Delas, a Maçonaria Moderna só aproveitou a forma simbólica e ritualista que a legitimou.

Se assim não fosse, poderíamos supor que a Maçonaria especulativa bem poderia ter surgido num outro qualquer país da Europa, como em França, em Itália, em Espanha ou em Portugal.A maçonaria moderna, da forma como a conhecemos desde 1717, não podia ter resultado do desenvolvimento das confrarias ou das corporações de ofícios, como as conhecemos em Portugal.As suas histórias são importantes, sem dúvida, sábias nas formas como definiram e aperfeiçoaram determinadas actividades ou artes, ricas nos elementos ritualísticos, simbólicos e iniciáticos que desenvolveram.Neste aspecto, a maçonaria moderna pode reivindicar para si uma herança que lhe pertence por inteiro, mas se repararmos na vida destas instituições, no tempo em que elas coexistem, apresentam percursos paralelos sem nunca se terem cruzado, é descontínua.

Das corporações de artes e ofícios, há uma herança imaterial que a maçonaria moderna recebe e adapta ao racionalismo do século XVIII, mas a herança material e humana, transfere-se para a diversidade das novas instituições nascidas da Revolução Industrial, as Academias e as novas Universidades, as Ordens profissionais e, mais tarde, os Sindicatos. A história portuguesa assinala a existência de inúmeras corporações, confrarias e irmandades, com uma extraordinária capacidade de intervenção na sociedade e na economia.

Essas instituições tiveram, algumas desde os primórdios da nacionalidade, uma acção determinante na própria formação do estado e da nação portuguesas, sem que se tenham deixadocontaminarcom as prerrogativas do poder político ou do poder religioso e é pena que ainda escasseiem as monografias sobre elas que, cremos, bem podiam confirmar esta asserção. Casos como o da Casa dos Vinte e Quatro, o das Ordens Religiosas e Militares, o do movimento das Misericórdias e o da Irmandade de São Lucas, são alguns desses casos, mas há outros, e muitos, que continuam a aguardar quem os estude devidamente.

Francisco Carromeu, M.'. M.'. (R.'. L.'. Madrugada, nº 508 a Or.'. de Lisboa, G.'. O.'. L.'.)

quinta-feira, janeiro 21, 2010

TER OU SER IRMÃO

Na edificação dos costumes e da vivência em sociedade, o construtor e sua obra têm ligação intrínseca em todas as fases do projeto, pois não pode o pedreiro iniciar qualquer trabalho se eximindo da responsabilidade sobre os efeitos que este venha a influenciar durante ou após sua execução. Sendo assim, menos ainda pode o pedreiro livre deixar de medir a todo tempo a marca de sua trajetória como edificador de posturas e conceitos no que concerne o trato e relacionamento entre os irmãos ou profanos do mundo exterior.

Neste contexto, o desbastar da pedra bruta não é uma atitude isolada, ela permeia a todos quantos a volta do novo ser acompanham este processo de transformação e neste momento, suas vidas também acabam por ser transformadas, na reação em cadeia onde os bons costumes e a retidão das ações devem ser como o maço, instrumento de força que as imprime nos corações da eternidade.

A postura correta do pedreiro livre, entretanto, esbarra nas entrelaçadas relações do quotidiano enquanto na correria do dia a dia esquecemo-nos até mesmo de quem somos e do novo papel que hora passamos a desempenhar na sociedade. Nestes momentos devem sempre ser lembradas as palavras do V.'.M.'. no encerramento, suscitando diligência, moderação e prudência, cernes da formação moral aprendidas no seio de nossa casa perfeita e às vezes esquecidas ao nos depararmos com os desafios do dia a dia exaustivo.

As promessas solenes de amparo, assistência, tolerância e bondade jamais devem estar submersas nos pesados afazeres ou perderemos nossa identidade de homens pinçados da turba e diferenciados da maioria, negando a formação justa e perfeita que como uma dádiva recebemos, permitindo ao mundo que julgue o trabalho de nossa oficina, em vão.

As belíssimas palavras de Davi também nos remetem a um maior sentimento sobre nosso comportamento não apenas em loja, mas no mundo profano também, pois ao citar “Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união”, devemos lembrar-nos que no início dos tempos todas as criaturas tiveram origem num só criador, o Senhor que como o orvalho de Hermon, que desce sobre os montes de Sião, ordena a vida e a bênção para sempre.

Somos de fato então todos irmãos, pois somos filhos de um mesmo Pai cuja harmonia e amor nos foram magistralmente ensinadas pelo Divino Mestre, as quais devem ser cultivadas a cada manhã, partes que são da lista de bons ofícios que deve professar o verdadeiro pedreiro livre e de bons costumes. Enganamos-nos, porém, se pensamos que ter irmãos nos basta, pois neste momento o verbo “ser”, também diferencia-nos da mesmice que ronda a humanidade onde todos buscam “ter”, muitas vezes sem o merecer.

Devemos nos esmerar em “ser” irmãos, pois o que o é, é por si só, não esperando mais por isso. Ser irmão é estar disposto a servir sempre a todos os que têm direito aos nossos bons ofícios, ou seja, a sociedade, esta que milita na escuridão, cega a beira do abismo implorando por um fio de esperança, que apenas os atos de homens completos e de bons costumes e, sobretudo, responsáveis por seus atos, podem multiplicar.Termino com a famosa frase de Voltaire:

“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você diz, mas morrerei lutando para que tenhas o direito de dizê-las.”Voltaire.

Wiliam Ferreira Nogueira, A:.M :.A:.R:.L:.S:. Wilton Cunha 144de Jaú – 308 Or:. do Rio de Janeiro, Brasil

MAÇONARIA: NECESSIDADE OU FARSA?

Artigo elaborado em 23/04/2008 e enviado para o XV ENCONTRO DE MEMBROS CORRESPONDENTES da “Loja Maçônica Fraternidade Brazileira de Estudos e Pesquisas”.

Às perguntas “por que você ingressou na maçonaria?” e “por que você permanece nela?” haverá provavelmente tantas respostas − coincidentes ou não − quantos indivíduos forem questionados. A segunda indagação é mais sensível, pois pressupõe algum conhecimento interno da Ordem, enquanto que a primeira normalmente é baseada em informações externas. Poupo-me de dar exemplos de respostas que já ouvi ao longo destas três décadas, durante as quais me dediquei à maçonaria e busquei compreendê-la. Posso afirmar, apenas, que desde o primeiro dia, mercê de minha fascinação por leitura, interessei-me por sua doutrina e sua história. Ainda hoje continuo interessado e, na prática, vejo que há muitos caminhos e descaminhos, visões superficiais e profundas, predominando quase sempre estereótipos com base em conceitos de fraternidade, igualdade, liberdade, aprimoramento pessoal, mutualismo, filantropia e outros tantos que fazem parte do discurso maçônico. Não faço, quanto a isso, nenhum juízo de valor. Vale dizer, abstenho-me, neste artigo, de afirmar se há acerto ou erro, se seriam válidas ou não tais concepções, pois todas elas, de alguma forma, estão inscritas ou decorrem da vasta doutrinação maçônica.

Mas outra indagação, que me parece ser bem mais importante, poderá ser feita. Será que essa compreensão relativamente estandardizada explicaria a subsistência da maçonaria nestes quase três séculos? Explicaria por que homens tão diferentes entre si, quer no plano social, econômico, ideológico, emocional, profissional, psicológico, político, religioso e tudo o mais, se disponham a reunir-se em Lojas para formar grupos fechados, segregados periodicamente da grande sociedade? Por que esses indivíduos tão distintos entre si se submetem a ritualismos, mitos e simbologias totalmente diversos da objetividade do seu cotidiano, a ponto de serem até ridicularizados por quem estivesse de fora os observando pela primeira vez?

Pois bem. A Loja Maçônica Fraternidade Brazileira de Estudos e Pesquisas, do Oriente de Juiz de Fora-MG, sugeriu para o seu XV Encontro de Membros Correspondentes o tema “O que podemos fazer para sentirmos a maçonaria mais forte e unida?”. Diria com mais ênfase, ainda, “o que podemos fazer para torná-la efetivamente mais forte e unida”, e não só para “sentirmos” que ela assim o seja, embora reconheça que antes do “agir” é preciso “ser” (agere sequit essere). A resposta para mim é muito clara e está intimamente ligada não só àquelas duas questões colocadas no topo deste artigo (por que ingressei na maçonaria e por que permaneço maçom?), mas principalmente à compreensão da subsistência secular da Ordem, que tem reunido sob si tamanha diversidade de individualidades, as quais, se contrapostas em qualquer outro ambiente, provocariam fatalmente conflitos destrutivos.

Óbvio, portanto, que, “interna corporis”, a Maçonaria jamais poderia ser palco destes conflitos destrutivos, provocados pelo confronto de individualidades. Ela deve ser o lugar e o instrumento adequado para superar, racional e inteligentemente, os antagonismos. Essa é a conclusão mais elementar e prática que se poderia supor para que a Maçonaria seja efetivamente forte e unida. Mas, para além da sua peculiar metodologia de instrução e fundo doutrinário, qual seria a razão subjacente e poderosa, sob cuja base indivíduos tão diferentes se unem sem abdicar da sua individualidade? Esse substrato deve necessariamente existir e, portanto, ser identificado. Caso contrário, acabar-se-ia por incorrer, mais cedo ou mais tarde, em uma grande farsa funcional, por conta daqueles que estariam assumindo posturas rituais por mero mimetismo ou conveniência, deixando-se levar pelo comodismo e abstendo-se de questionar ou, o que é pior, reproduzindo formas desprovidas de conteúdo.

A velha e boa lógica nos ensina que a compreensão (conteúdo) das idéias está na razão inversa de sua extensão (conjunto de sujeitos a que convêm). De igual maneira, pode-se dizer (e isso está nas lições de aprendiz) que, em matéria de saber, a qualidade é preferível à quantidade. No mundo atual, em que se abate sobre nós uma tempestade ininterrupta de informações acerca de tudo e sobre todas as áreas conhecidas e desconhecidas, é fundamental que não se sucumba sob essa nova modalidade diluviana. Sem perder de vista o avanço do conhecimento, a saída sensata é buscar pelos princípios das coisas, a fim de reorganizar o pensamento e orientar nossas ações. Será preciso deixar de lado tudo que é acidental e ater-se ao essencial.

Penso que o ponto fundamental que está na gênese da Maçonaria sempre foi e será a necessidade que tem o ser humano de encontrar-se com outros seres humanos, em um nível de intimidade que lhes possibilitem confrontarem suas experiências pessoais, de maneira respeitosa e segura. Tal encontro será tanto mais proveitoso quanto mais heterogêneo for o grupo.Para mim, esse é o ponto central do círculo maçônico; aquele que tem sustentado essa sociedade particular, separada da grande sociedade civil. A partir desse encontro íntimo será possível a conciliação dos opostos e transcender as diferenças pessoais, mobilizando-se a massa crítica resultante em prol de finalidades escolhidas, as quais dependem do mesmo processo de confronto das idéias.

No começo do Século XVIII, a Maçonaria se estabeleceu como um “centro de união” (cf. artigo 1°, das Constituições de Anderson), onde indivíduos de qualquer raça, credo ou ideologia poderiam superar suas diferenças e construir um ambiente de concórdia, firmado num compromisso mínimo acerca de religião e ética.Alguém poderá dizer: mas hoje as coisas são bem mais complexas, pois não se trata de conciliar somente pessoas, mas sim enfrentar antagonismos entre valores (banalização de condutas criminosas, públicas e privadas), instituições e até mesmo nações. É verdade, mas na base de tudo isso sempre estará o homem. E é a natureza humana o material com o qual trabalha a Maçonaria. O sucesso desta dependerá do nível de compreensão e envolvimento que tiverem os seus membros em relação à realidade (o que é de fato) e ideais (o que pretende ser) da Ordem, coisas que bem podem estar em contradição.

Aqui tangenciamos um aspecto delicado e muitas vezes evitado: enfrentar as contradições da Maçonaria, que as há seguramente, e discuti-las em profundidade, pois essa postura é vital para a sua compreensão. Observe, por exemplo, que a Maçonaria originou-se e mantém sua vertente estrutural no valor do trabalho (obreiros medievais da construção laica e religiosa), e subsiste em um mundo capitalista, mais que nos socialistas. Diz-se dela que é adogmática, mas institui postulados que não podem ser questionados ou alterados. Prega a igualdade, mas segrega. Aparente ou não, essas são algumas dentre outras tantas contradições que sempre deverão ser pensadas em profundidade, sem receio de ser considerado “herético”.

Está na origem daquela necessidade básica do ser humano, pensante, de encontrar um ambiente seguro e íntimo, onde possa expressar suas experiências e dúvidas, sabendo de antemão que colherá, dos seus parceiros, igual consideração. Enfim, para usar uma expressão corrente no profissionalismo de qualquer área, é preciso melhor “qualificar” o maçom. Afinal, a sua “qualificação” como pedreiro ou canteiro, no período operativo, não deu lugar à forma especulativa atual, vinculada à tradição operária? Nada mais sensato, portanto, do que investir-se na qualificação dos maçons especulativos, também.

Se a Arte Real é a arte do pensamento, forjemos ou busquemos estão os pensadores, pois é disso que a Maçonaria mais carece hoje, tal como em outros momentos de sua história. Cumpre diretamente às Lojas a responsabilidade não só pela seleção dos profanos, como também − e principalmente − pela sua formação maçônica, cujo fundamento é a liberdade de pensamento e de expressão, no ambiente respeitoso e seguro que a Loja Maçônica pode propiciar. Nesse sentido, é de importância vital para a saúde da Ordem e da sua doutrina a existência e atuação permanente das chamadas “Lojas de Pesquisa ou de Estudos Maçônicos”, produzindo, orientando, estimulando e divulgando trabalhos de interesse para Lojas e maçons.

A Maçonaria está estruturada de tal forma que as idéias podem e devem ser confrontadas, pois é desejável e necessário que os maçons tenham fortes compromissos com ideais claros e propostas concretas, defendendo-os ao lado de seus irmãos, quando com eles identificados, ou mesmo em oposição a eles, quando honestamente acreditar na sua verdade. Respeitado o ritualismo essencial das sessões maçônicas, que traz consigo ordem e disciplina, não há outra restrição para que as idéias sejam expostas e defendidas mediante argumentação racional, até mesmo quando não sejam agradáveis ou simpáticas a outros maçons. Estabelecer esse nível de compreensão da Ordem, no meu modo de ver, é fundamental para o seu aprimoramento como instituição sempre atual e, consequentemente, fautriz de transformações sociais.

A Maçonaria faculta aos seus adeptos o lugar físico, o ambiente propício, os meios e instrumentos, simbólicos ou não, e o tempo necessários para que os indivíduos se encontrem em um nível de intimidade e segurança tal que possam confrontar suas experiências e ideais, ao ponto de se tornarem vulneráveis em defesa de idéias que transcendem os interesses pessoais. É, portanto, impensável a Maçonaria sem o momento da Loja justa e perfeita, dirigida pela sabedoria, sustentada na força da razão e ornada pela beleza dos sentimentos votados ao bem social. Por isso, concordo plenamente com Leo Apostel, em seu inspirador ensaio filosófico sobre a Maçonaria, e tomo a liberdade de fazer minhas as suas palavras, quando afirma que “Fora de Loja, os maçons, como tais, não precisam, portanto, estar ligados, obrigatoriamente, por laços de amizade pessoal, ou por um propósito comum de vida; muito pelo contrário. A profundidade do ideal maçônico, como eu o vejo, deve evidenciar mais nitidamente pelo respeito mútuo e simpatia de antagonistas (pessoais, sociais ou ideológicos).”

[“A Maçonaria - Um Ensaio Filosófico”, Ed. A Trolha, Londrina/PR, 1989, p. 12]. Com isso quis também enfatizar a poderosa fonte de energia, renovável e inesgotável, dessa verdadeira usina de idéias que está implícita na compreensão e prática da Maçonaria, nesse ambiente especialmente preparado para que individualidades superem suas diferenças e, do confronto de idéias, ampliem as formas de ver o mundo circunjacente e descubram as soluções possíveis para os problemas sobre os quais se debruçarem.

Antonio Carlos Bloes, M:.M:.A:.R:.L:.S:. Harmonia e Trabalho, 222, Itapetininga/SP - Brasil

quarta-feira, janeiro 20, 2010

O que é a Maçonaria

Não possui a Maçonaria leis gerais nem livro santo que a definam ou obriguem todo o maçon através do Mundo; nao sendo uma religiao, nao tem dogmas:. Em cada país e ao longo dos séculos, estatutos numerosos se promulgaram e fizeram fé para comunidades diferentes no tempo e nos costumes:. Mas isso nao obsta a que a Maçonaria possua certo número de princípios básicos, aceites por todos os irmaos em todas as partes do globo:. É essa aceitaçao, aliás, que torna possível a fraternidade universal dos maçons e a sua condiçao de grande família no seio da Humanidade, sem que, no entanto, exista uma potencia maçónica à escala mundial nem um
Grao-Mestre, tipo Papa, que centralize o pensamento e a acçao da Ordem:.

CONSTRUÇÃO
Vejamos o seu nome Maçonaria vem provavelmente do frances "Maçonnerie", que significa uma construçao qualquer, feita por um pedreiro, o "maçon":. A Maçonaria terá assim, como objectivo essencial, a edificaçao de qualquer coisa:. O maçon, o pedreiro-livre em vernáculo portugues, será portanto o construtor, o que trabalha para erguer um edifício:.

JUSTIÇA SOCIAL

A Maçonaria admite, portanto, que o homem e a sociedade sao susceptíveis de melhoria, sao passíveis de aperfeiçoamento:. Por outras palavras, aceita e promove a transformaçao do ser humano e das sociedades em que vive:. Mas, para além da solidariedade e da justiça, nao define os meios rigorosos por que essa transformaçao se há-de fazer nem os modelos exactos em que ela possa desembocar:. Nada há, por exemplo, no seio da Maçonaria, que faça rejeitar uma sociedade de tipo socialista ou de tipo liberal:. O que lhe importa é um homem melhor dentro de uma sociedade melhor:.

ACLASSISMO

Dos ideais de justiça e solidariedade humanas, levados até rs últimas consequencias, resulta naturalmente o ser a Maçonaria uma instituiçao aclassista e anticlassista, englobando representantes de todos os grupos sociais que, como maçons, devem tentar esquecer a sua integraçao de classe e comportar-se como iguais:. "A Maçonaria honra igualmente o trabalho intelectual e o trabalho manual", rezava o artigo 6s da Constituiçao de 1926:. E, nos requisitos para se ser maçon, exige-se apenas, para além de diversas condiçoes morais e intelectuais que mais adiante serao mencionadas, o exercer-se uma profissao honesta que assegure meios de subsistencia:. É verdade que a exigencia de se possuir a instruçao necessária para compreender os fins da Ordem exclui, desde logo, os analfabetos e grande parte das massas populares (em Portugal, entenda-se):. E é verdade também que a maioria dos maçons proveio e continua a provir dos grupos burgueses:. Mas isso deve-se apenas rs condiçoes históricas em que todas as sociedades tem vivido nos últimos 200 anos:. R medida que as classes trabalhadoras vao atingindo mais elevado nível social e cultural, assim o número de maçons delas oriundo tende a aumentar paralelamente:. Em Maçonarias de países como a Gra-Bretanha, a França ou a Holanda, o carácter aclassista da Ordem Maçónica nota-se com muito maior intensidade do que em Portugal ou na Espanha:.

APERFEIÇOAMENTO INTELECTUAL

O aperfeiçoamento do homem e da sociedade nao se poe apenas, para o maçon, em termos de melhoria económico-social:. Poe-se também, e sobretudo, em termos de melhoria intelectual, da afinamento das faculdades de pensar e de enriquecimento adquiridos:. Livre pensamento, para começar:. "A Maçonaria é livre-pensadora", dizia o artigo 3s da Constituiçao de 1926:. Mas livre pensamento nao coincide necessariamente com ateísmo:. Já um texto famoso e respeitado dos primórdios da instituiçao, as Constituiçoes de Anderson, de 1723, dizia que o maçon que entendesse bem de "Arte", "nunca será um ateu estúpido ou um libertino irreligioso:. Mas embora - continuava o texto - nos tempos antigos os maçons fossem obrigados, em cada país, a ser da religiao, fosse ela qual fosse, desse país ou dessa naçao, considera-se agora como mais a propósito obrigá-los apenas rquela religiao na qual todos os homens estao de acordo, deixando a cada um as suas convicçoes próprias(...)":. Hoje, talvez a maioria dos maçons professe um deísmo ou teísmo de conceitos vagos e alegóricos, embora nao faltem ateus nem crentes de variadas religioes, desde o cristao ao muçulmano:. O que todos rejeitam sao dogmatismos e exclusivismos confessionais:.

FRATERNIDADE

Levados às últimas consequências, os princípios atrás mencionados teriam de implicar uma fraternidade de tipo universal. Este é nao só um principio teórico, mas uma norma de prática quotidiana:. "A Maçonaria é uma instituiçao universal (...):. Todos os maçons constituem uma e a mesma família e dao-se o tratamento de irmaos, sendo iguais perante a lei", dizia o artigo 7º da Constituiçao de 1926:. " A Maçonaria estende a todos os homens os laços fraternais que unem os maçons sobre a superfície do globo" (artigo 5º do mesmo texto):. Através do ritual, que inclui vocabulário próprio e sinais de reconhecimento específicos, um maçon portugues pode contactar com um maçon japones e receber dele ou transmitir-lhe ajuda e apoio de qualquer género:. De facto, um dos deveres importantes do maçon, inserto nas Constituiçoes do mundo inteiro, consiste em reconhecer como irmaos todos os maçons, tratá-los como tais e prestar-lhes auxílio e protecçao, a suas viúvas e filhos menores:. A história da Maçonaria está cheia de casos que provam o geral cumprimento deste dever:.

DEMOCRACIA, IGUALDADE

Democracia e igualdade encontram-se também entre os princípios básicos da instituiçao maçónica. Todo o poder reside no povo, como o atestava o artigo 18s da Constituiçao de 1926, ao dizer que "A Ordem Maçónica em Portugal só reconhece a soberania do povo maçónico":. Todos os maçons sao iguais, independentemente do grau a que pertençam:. "Durante as sessoes maçónicas - rezava o artigo 17º, § único - todos os obreiros, qualquer que seja o seu grau ou o seu rito, estao sujeitos r mais perfeita igualdade, prevalecendo a opiniao da maioria, quando nao seja contrária rs leis e regulamentos":. Por sua vez, as células de organizaçao e de trabalho da Ordem, as chamadas Oficinas, "sao todas iguais em direitos e honras, e independentes entre si" (artigo 12s da Constituiçao) :. Nas Maçonarias de todo o mundo, o Grao-Mestre e os Grao-Mestres adjuntos sao eleitos pela totalidade do povo maçónico, variando apenas a forma dessa eleiçao:. Em muitos países, qualquer maçon, aliás, desde que tenha atingido a condiçao de Mestre (ou seja, maçon perfeito) pode, em teoria, ser eleito Grao-Mestre:. Outro tanto se verifica nas eleiçoes para os múltiplos cargos de cada oficina:.

OFICINAS [Lojas]

Cada Maçonaria nacional está estruturada em células autónomas, "todas iguais em direitos e honras, e independentes entre si", designadas por oficinas:. Existem dois tipos de oficinas, chamados lojas e triângulos:. A loja é composta por um mínimo de sete maçons perfeitos, nao conhecendo limite máximo de membros:. O triângulo é composto por tres maçons perfeitos, pelo menos, e por seis, no máximo, passando a loja quando um sétimo membro se lhe vem agregar:.

Uma loja completa possui dez funcionários, que sao:

> Venerável ou Presidente, que preside aos trabalhos e os orienta:.
> Primeiro Vigilante, que dirige os trabalhos dos companheiros e vela pela disciplina geral:.
> Segundo Vigilante, que tem por funçao a instruçao dos aprendizes:.
> Orador, encarregado de fazer a síntese dos trabalhos e deles extrair as conclusoes; é ainda o representante da Lei maçónica:.
> Secretário, que redige as actas das sessoes e se ocupa das relaçoes administrativas entre a loja e a Obediencia:.
> Mestre de Cerimónias, que introduz na loja e conduz aos seus lugares os visitantes, e ajuda o Experto nas cerimónias de iniciaçao:.
> Tesoureiro, que recebe as quotizaçoes e outros fundos da loja e vela pela sua organizaçao financeira:.Os cargos, do Venerável ao Secretário, sao chamados as luzes da oficina:.

* Fonte: Grémio Fénix (GOL, Lisboa)

segunda-feira, janeiro 04, 2010

Iniciação na Maçonaria

Mais dois novo IIr.: iniciaram na Maçonaria apodiense no fim de 2009, são eles: Francisco Augusto (Pitita) Moises Câmara. Que passam a colaborar no trabalho da Loja Vale do Apodi.

domingo, janeiro 03, 2010